substantivo feminino
1. sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que se almeja; confiança em coisa boa; fé (tb. us. no pl.).
2. RELIGIÃO: a segunda das três virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade [Representa-se por uma âncora.].
"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso."
A esperança não é algo concreto, com uma simples definição, pois tem um conteúdo emocional imaginado que muda de acordo com a pessoa que o sente, é uma virtude dinâmica. É algo que vem de dentro, passa pela alma e reverbera no corpo. Baruch Spinoza define afeto como tudo aquilo que aumenta ou diminui a potência de viver.
Temos um vislumbre de como a esperança aumenta essa potência quando, já muito idosa, em cadeira de rodas, uma repórter fez a seguinte pergunta à dra Nise da Silveira, interrompendo sua fala: “Doutora, deixe-me fazer uma pergunta: a senhora já está tão velhinha, tão idosa, e ainda está fazendo planos. Como é isso?” Ela respondeu: “Minha filha, eu posso sonhar. Eu posso sonhar projetos para o ano 4000”.
Quando Erisvaldo Santos diz das “Encruzilhadas” podemos entender a esperança no sentido que “é justamente o que temos quando nos encontramos em uma encruzilhada. É a nossa relação com caminhos possíveis, caminhos cruzados, caminhos abertos, caminhos por abrir. Ela tem um potencial transformador, que surge como uma luz, um farol que se nos apresenta como direção de um caminho que podemos trilhar, construindo passo a passo.”
Muitas vezes relacionada com a capacidade de esperar, não devemos confundir com uma espera passiva, deixando de viver o real aguardando por “tempos melhores”.
Ela surge sim, como opção a não desesperar.
Como já foi bem dito: “A esperança não é genuflexório de simples contemplação. É energia para as realizações elevadas que competem ao seu espírito(...). Sem ela, suas noites terrestres serão mais escuras”
Esperança sem ação, como uma simples afirmação que finda em si mesma, é maléfica, pois não nos impulsiona para realizações. Também pode ser nociva quando fica reduzida à prosperidade ou a um estilo de vida, relacionado a posses, que contemplaria apenas uma satisfação material e imediata de um indivíduo. As virtudes, enquanto tal, representam ações que refletem em nós e no coletivo. A esperança como uma virtude (para todos), desponta como alento nas noites escuras da alma. Representa uma semente, que guarda em si o potencial muitas vezes insuspeito.
Como vislumbrar um grande jequitibá em uma pequena “bolinha marrom” ? Aquela pequena estrutura que até se assemelha a um mineral, sem vida, traz em sua essência o potencial sagrado da renovação que manifesta como fruto de calma e força, humildade e coragem, pausa e trabalho. E então, através do tempo (nosso grande amigo), com uma confiança perseverante, a semente brota, cresce e se desenvolve, multiplicando bençãos na forma de alimento, sombreamento, purificação e, acima de tudo, novas sementes.
O ÚLTIMO BAOBÁ (Contos Africanos)
Ninguém acreditava mais nas antigas lendas. Os narradores que se sentavam embaixo do baobá a desemaranhar longas histórias, protegidos pelas estrelas, já tinham partido quando a areia chegou.
As palavras estavam caladas.
Ninguém mais acreditava em um céu protetor. África era um enorme lençol amarelo. A areia, grão a grão, tinha construído um grande deserto. Interminável. Ninguém percebeu, ou ninguém quis se dar conta.
A desolação chegou em silêncio. Aconteceu quando os glaciais se esvaneceram em uma queixa interminável, quando os ursos e as baleias se converteram em recordação, quando as águias perderam o rumo.
O céu, cansado da torpeza da humanidade, se refugiou em outro céu, mais distante. Fugiu. Não podia mais proteger a terra.
O velho tinha visto as pessoas partirem, os mais jovens em direção ao norte, os mais fracos em direção à escuridão.
Sentiu uma nostalgia distante o invadir lentamente. O velho narrador, embaixo do último baobá, contou uma lenda antiga.
Nela, falava do nascimento das estrelas, da luz, do mundo… Mas não havia ninguém mais disposto a escutar um velho prosador. Olhou em torno, procurando algum ouvido. Africa, rio amarelo, estava rodeada de silêncio. Buscou uma estrela perdida, no céu só havia escuridão.
O velho apoiou as costas cansadas no tronco dolorido do baobá. Casca com casca. Pele rachada, alma dolorida.
A árvore da vida estremeceu. O vento dava rajadas contra a areia carbonizada. Tinha que partir. Sabia que tudo se acabava. O último baobá e a última voz da África iriam embora juntos. Abriu o punho. Trêmulo, contemplou a semente diminuta que havia guardado tanto tempo.A semente da esperança.
Olhou a árvore. Era o momento. Não se pode atrasar a retirada.
Separou a areia até chegar à terra. Virou a mão e, pela linha da vida, girou a semente até encontrar um sulco.
O baobá havia aberto a casca e do oculto coração brotou a água milagrosa. A árvore era a vida.
O velho voltou a fazer crescer baobás grandiosos como gigantes que beijavam as nuvens. Agora, sobre os escritórios, nos telhados, sobre as avenidas e os trens; nos beirais, sobre comércios, bancos e ministérios crescem trepadeiras coloridas. Embaixo delas, está escondida a destruição como uma lembrança dolorosa.
Entre os dedos tremeu a semente.
Diminuta e brilhante.
Nunca imaginou que sairia de lá um dragão alado,
uma sereia de ondulantes cabelos,
um sonho eterno de esperanças.
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