"Tive a sensação de vislumbrar a dimensão do Mundo quando experimentei ver pelos teus olhos"
Joana D'Arc
Em 1412, na vila de Domrémy, nordeste da França, nasceu Joana D’arc. Filha de Jacques d’Arc e Isabelle Romée, era a caçula de 5 filhos e teve uma educação baseada no catolicismo.
Aos 13 anos começou a ouvir vozes que ela atribuía à São Miguel, Santa Margarida e Santa Catarina que lhe diziam que ela tinha a missão de salvar a França.
A França enfrentava a Guerra dos 100 anos, conflito que se estendeu por 116 anos e teve início em 1328, quando o então rei francês Carlos IV faleceu sem deixar herdeiros diretos para lhe substituir. Começou então uma disputa entre o rei da Inglaterra Eduardo III e Filipe VI. Eduardo III tinha descendência por via materna com Carlos IV, mas não tinha o apoio da nobreza francesa que temia perder a autonomia e que apoiava e acabou coroando Filipe VI. Este desgaste político acabou abalando a aliança entre França e Escócia, motivando o início da guerra.
No ano de 1429, Joana, com 16 anos, partiu com o propósito de cumprir sua missão de salvar a França. Rumou para a cidade de Orleans carregando uma bandeira com os nomes de Jesus, Maria e a imagem do Pai Eterno.
Parou na cidade de Vaucouleurs, onde pediu a ajuda de um funcionário, Robert de Baudricourt, para ir até Chinon falar com o rei. Quando relatou sua história foi respondida com sarcasmo e deboche.
Mas Joana não desistiu e dia após dia visitou os muros e refez seu pedido. Enquanto tentava seu encontro com o rei, foi, aos poucos, ganhando o apoio popular. Baudricourt acabou aceitando, cedendo a ela um cavalo e alguns militares que a escoltaram pelo caminho.
Dizem que foi neste momento que ela resolveu cortar seu até então longo cabelo e passou a se vestir como um homem, encarnando um verdadeiro guerreiro.
Ninguém sabe ao certo como uma adolscente, analfabeta, vestida de homem e que dizia conversar com santos conseguiu ser recebida pelo rei e, mais ainda, conseguiu convencê-lo a deixá-la liderar parte do exército real em uma guerra. Muito se especula a respeito e muitas lendas giram em torno deste episódio: dizem que o rei estava vestido como um nobre comum em meio a multidão que a cercava nas ruas e ela conseguiu imediatamente reconhecê-lo, outros dizem que ele é quem reconheceu nela uma luz divina. Certo é que, nem em seu julgamento, Joana quis contar o que de fato houve, dando um ar ainda maior de mistério a esta passagem de sua história.
Muitos historiadores vêem este gesto real como um ato de desespero, depois de ver suas tropas serem derrotadas uma atrás da outra.O então rei Carlos VII, achou que era hora de arriscar, além do que Joana era conhecida por ser uma encorajadora que levantava os homens com palavras de incentivo, o que era muito bem vindo naquele momento de desesperança.
Seja qual tenha sido o motivo, foi acertado. Joana d’Arc foi responsável por duas importantes vitórias da França em Orleans e em Reims, onde tradicionalmente os monarcas eram coroados e assim o rei Carlos VII pode finalmente ser coroado em 17 de julho de 1429.
Existem, neste ponto, também diferentes versões. Muitos dizem que a jovem encabeçou a batalha e estava na linha de frente nos campos da guerra. Alguns historiadores, no entanto, acreditam que isso faz parte da lenda e imagem criada em volta da heroína, que na verdade estava na parte estratégica, traçando os planos e cuidando da retaguarda.
Para legitimar a coroação, o rei Carlos VII deveria marchar até Paris, capital da França. Joana e os militares sugeriram uma marcha rápida, mas o rei não aceitou e declarou uma trégua de batalhas para fazer o percurso com toda a pompa. O duque de Borgonha, no entanto, em uma manobra de guerra reforçou a defesa pelo caminho e pegou o exército francês de surpresa que, sem opção, aceitou a rendição sem nem mesmo lutar.
O governo real francês iniciou uma campanha de diplomacia, dissolvendo o exército e desistindo da guerra.
Joana d’Arc não aceitou bem esta nova situação, acreditando que sua missão não havia sido cumprida. E mesmo sem apoio e suporte do rei, ela continuou a participar de batalhas.
Em 23 de maio de 1430, após a cidade de Compiégne ser tomada pelo inimigo ela foi capturada. Dizem que ela havia sido avisada pelos Santos que isto ia acontecer, mas decidiu seguir em luta assim mesmo. Por um valor de 10 mil libras foi vendida ao exército da Inglaterra para ser julgada pela Santa Inquisição.
Ao perceber que não havia escapatória ela até teria tentado morrer com honra através do suicidio, mas não teve sucesso e foi levada a julgamento com graves acusações de ordem religiosa. Foi acusada de ser bruxa, herege e idólatra, de enganar o povo e invocar demônios. O fato de usar vestimentas de homens foi usado contra ela e até sua virgindade foi questionada. Considerada culpada de todos os crimes foi condenada à morte na fogueira.
No dia 30 de maio de 1431, um poste foi colocado em praça pública, onde ela foi amarrada. Conta-se que segurava uma cruz apertada contra o peito e que quando o fogo foi ateado ela chamou por Jesus e os santos que a acompanhavam. Por seis vezes foi possível ouvi-la dizer o nome de Jesus antes de se calar para sempre.
No entanto, apesar de ter morrido como bruxa, em 1456 foi considerada inocente pelo Papa Calisto III e, cinco séculos depois, em 1909, a Igreja deu autorização para que Joana d’Arc fosse beatificada e posteriormente, em 1920, ela foi enfim canonizada pelo Papa Bento XV.
Dentro da Umbanda ela está sincretizada como a orixá Obá.
Talvez muitos nem saibam que hoje ela é uma santa, mas seu legado de coragem e bravura, assim como sua injusta morte, a transformou em um ícone de sacrifício, uma heroína que persistiu até a morte no que acreditava. Sua força, perseverança e esperança servem de exemplo até os dias de hoje e de inspiração em todos os momentos em que somos desafiados em nossos valores mais profundos
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2018/05/joana-darc-relembre-historia-da-guerreira-e-santa-francesa.html
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